Ainda vale a pena ler "A
Imitação de Cristo"?
O livro "A Imitação de
Cristo" foi um dos mais traduzidos no mundo. Alguns dizem que entre os
livros religiosos, depois da Bíblia, ele foi o mais traduzido. Escrito antes da
invenção da imprensa, é de surpreender que milhares de cópias estavam
espalhadas pelas bibliotecas da Europa.
Apesar de sua popularidade, não
se tinha conhecimento de quem o escrevera, de seu autor. Não é de se admirar,
pois no Capítulo II lê-se: "estima ser ignorado e tido em nenhuma
conta" ou no original em latim: "ama nesciri et pro nihilo
reputari". O Capítulo V adverte os leitores a não procurar quem disse, mas
a prestarem atenção ao que foi dito: "non quaeras quis hoc dixerit: sed
quid dicatur attende", ou seja, não importa quem escreveu "A Imitação
de Cristo", mas tão somente a sua mensagem.
Todavia, como a pergunta é se
ainda vale a pena lê-lo, saber quem o escreveu pode ser de alguma valia.
Conforme os estudos dão conta, foi escrito pelo padre Thomas Hemerken, nascido
na cidade alemã de Kempen que, ao ser colocada na forma latina torna-se Kempis,
assim diz-se que o livro foi escrito por "Thomas de Kempis".
Kempen ou Kempis estava
localizada na região da fronteira com a Bélgica e a Alemanha atuais, na área de
cultura conhecida como flamenga, ou seja, holandesa. Naquela área surgiu o
movimento denominado devotio moderna para contrapor a devotio antiqua em voga.
A devotio antiqua era praticada por um clero decadente, o qual não punha mais o
próprio coração nas celebrações litúrgicas e nas práticas devocionais.
Lembrando que se trata do século XV, pouco antes da Revolução Protestante. Além
disso, apresentava uma mística intelectualizada, mais preocupada com questões
abstratas que com as dificuldades cotidianas. Ela era praticada sobretudo na
região do Rio Reno e seu representante mais ilustre foi o dominicano Mestre
Eckhart, mais tarde acusado como herege e que teve parte de seus escritos
condenados. Por fim, ela apresentava uma ascese inalcançável. As pessoas se
propunham penitências dificílimas, iam em busca de heroísmo ascéticos tão
terríveis que se tornava impossível cumpri-las.
Nesse cenário, surgiu a devotio
moderna propondo que sacerdotes e religiosos empenhassem o coração no culto a
Deus, saindo do automatismo. Para fugir da intelectualidade exacerbada,
centralizaram a devoção em Cristo. Ela rapidamente se tornou popular, pois,
além de cristocêntrica, oferecia a todos práticas de penitência e de
mortificação mais acessíveis.
Assim, Thomas de Kempis encontrou
campo fértil para escrever a belíssima obra "A Imitação de Cristo"
que traz orientações práticas para a vida do fiel. O livro é divido em
capítulos (ou fichas) independentes, ou seja, cada um possui começo, meio e
fim, portanto, pode ser lido de modo autônomo. Isso justifica o tradicional costume
de se fazer uma oração e abrir o livro aleatoriamente. Sua característica é
colocar o fiel em contato com Cristo, ajudando-o em seu processo de conversão,
o qual exige uma ruptura com o mundo. Justamente nesse ponto a obra é
criticada, pois a separação do mundo que ele sugere faz com que seja tachado de
individualista, ou seja, com uma espiritualidade desencarnada, fora do mundo
real.
No entanto, é possível superar
esse obstáculo, esse efeito colateral de tão excelente remédio, recordando que
o livro foi escrito para monges, ou seja, pessoas que já viviam apartadas do
mundo. Para tanto, basta adaptá-lo ao dia a dia. Apesar disso, não deixa de ser
um livro de extraordinária importância, posto que nesses tempos atuais em que
muitos na própria Igreja abraça a mentalidade mundana, "A Imitação de
Cristo" coloca as coisas em perspectiva cristocêntrica. A centralidade em
Nosso Senhor Jesus Cristo, a ruptura com o mundo e com o pecado, numa
espiritualidade que engaja a pessoa pelo coração e faz com que viva para o que
realmente importa: o Céu.
No Brasil, existem várias edições
disponíveis, inclusive na internet. A Editora Paulus possui uma excelente
tradução da obra, num português bastante refinado e requintado, feita pelo
Padre Cabral. Depois de cada capítulo, breves reflexões acerca daquele
conteúdo, escritas por um padre francês. Contudo, para quem tem dificuldade com
o português talvez não seja a edição mais indicada. Uma versão mais fácil e tão
fiel quanto pode escolher a edição da Editora Paulinas, cuja tradução foi feita
por Francisco Catão, o qual conseguiu adaptar o texto para para uma linguagem
mais corrente. Finalmente, a edição da Vozes que traz além de um português
requintado, comentários de São Francisco de Sales. Ela é interessante pois
coloca em língua portuguesa, um trabalho feito em 1989, por um padre francês
que, ao estudar a obra daquele grande santo, relacionou-as aos temas abordados
em "A Imitação de Cristo".
O livro está dividido em quatro
grandes seções, sendo as duas primeiras introdução do leitor à vida espiritual.
A terceira parte é um diálogo entre Cristo e a alma. Trata-se da parte
devocional, meditativa. A quarta parte refere-se à Eucaristia, ensinando como
recebê-la, adorá-la e a como aproximar-se dela de maneira adequada.
"A Imitação de Cristo"
deveria ser o livro de cabeceira de todo católico. Trata-se de uma
espiritualidade válida, especialmente nesse tempo em que a Igreja, em vez de
ser missionária e evangelizar o mundo, está sendo justamente
"evangelizada" por ele. "A Imitação de Cristo" poderá, sem
dúvida, ajudar a impedir a mundanização da Igreja e de cada um.
Acessem e adquirem:
Com um revendedor Porta-a-porta ou pelo site portaaporta.cancaonova.com/
Pela editora Ecclesiae www.ecclesiae.com.br/
Com os Legionários de Cristo www.imitacaodecristo.com.br/
Fonte: padrepauloricardo.org
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