A
Proposta de Santo Afonso
Nápoles,
Padres demais e Apóstolos de menos
Lá
por 1700 e pouco, a diocese de Nápoles, no sul da Itália, tinha uns 500 mil
habitantes, 39 paróquias na sede e 41 na zona rural. Na sede havia 104
conventos, com 4.500 religiosos, padres e irmãos. As igrejas eram 504, com uns
1.500 padres seculares ligados à arquidiocese, enquanto havia ainda mais uns
3.000 sem ocupação pastoral definida. Em todo o Reino de Nápoles, para uma
população de 4 milhões, havia 56 mil padres, 31 mil religiosos, 23 mil freiras.
Havia
duas ou até três cidades de Nápoles. Uma era a dos importantes e dos ricos,
vivendo de rendas, do comércio ou ocupando altos cargos no Reino e na Igreja.
Era a Nápoles dos andares superiores, das carruagens, dos salões e dos
minuetos. Outra era a cidade dos andares térreos e dos porões, a Nápoles dos
empregados domésticos, dos prestadores de serviço, dos que viviam de
espertezas. Fora do centro de ruas apinhadas, estava a cidade da periferia, da
beirada do porto, dos quarteirões olhados com suspeita, dos marinheiros e dos
desempregados.
Além
do Reino da capital, havia o reino dos fundões perdidos, dos povoados
escondidos, das pequenas cidades, dos pobres e dos esquecidos. Também no
interior sobravam os padres, mas poucos eram os que realmente se dedicavam à
evangelização. Era quase dominante uma religiosidade sincretista e mágica,
alimentada pelo medo, pela ignorância e por interesses.
Foi
na capital desse reino que, em 1696, nasceu Afonso de Ligório, de família rica,
importante e cristã. Recebeu a melhor instrução possível naquele tempo, foi
advogado de fama, deixou tudo para ser padre em 1726, para ser apóstolo de fato
para os que precisavam.
Afonso,
Apóstolo das periferias
Logo
depois de ordenado padre, Afonso era muito procurado para pregações nas igrejas
e nos conventos. Não se deixa, porém, prender pelos que já têm assistência
religiosa garantida. Já antes de ser padre, une-se a um grupo de sacerdotes que
se dedicam a pregar missões. Começa assim a conhecer todo um mundo muito
diferente do mundo dos importantes ao qual pertencia. Não se contenta com as
missões. Cria uma novidade pastoral. Vai para os arredores do mercado e do
porto. Daí a pouco, ajudado por amigos, está reunindo seus ouvintes à noitinha,
depois do horário de trabalho, numa praça qualquer. Fala-lhes e os ouve falar
sobre sua vida e suas lutas. Meditam junto, rezam, cantam. Nascem fervorosas
comunidades cristãs. Gente simples e rude, que estava apenas à espera de quem
lançasse a semente.
Afonso,
para as Roças do Reino
Com
os padres seculares de Nápoles que formavam a congregação das “Missões
Apostólicas”, Afonso vai pregar no interior do reino. Mais uma vez descobre um
mundo novo, cheio de pobreza, de ignorância e de... boa vontade. Clero e povo
não eram muito diferentes entre si. Precisavam igualmente de quem lhes levasse
o Evangelho, mas o Evangelho da esperança. Não precisavam de novos fardos nem
de mais tristezas.
Viagens
difíceis, longas horas de confessionário, pregações, vigílias. Em menos de três
anos a saúde do missionário Afonso de Ligório está comprometida. Durante um mês
esteve perto da morte. Deus não queria levá-lo. Queria apenas que parasse um
pouco para tomar novo rumo, para mais longe.
A
descoberta do que já sabia
Em
1730, com alguns padres companheiros de apostolado, Afonso vai para os altos da
montanha acima de Amalfi, acima de Scala. Alojam-se ao lado da capela de Nossa
Senhora dos Montes. De perto e de longe acorrem pastores de cabras e camponeses
da serra, procurando sedentos e famintos o Evangelho.
“Foi
essa a ocasião de que Deus se serviu para fazer com que Afonso descobrisse a
grande miséria espiritual de que sofriam tantas almas privadas dos sacramentos
e da palavra de Deus que apodreciam abandonadas nos campos e nos casebres” (A.
Tannoia). Afonso já vira antes muita gente abandonada, sem o anúncio da
salvação. Mas não é sempre no primeiro encontro que se vê a realidade. É
preciso olhar na hora certa. E no caso a hora certa era a de Deus.
Era
chegada a hora de Afonso: “Seu coração tinha ficado em Santa Maria dos Montes.
Não deixou para trás seus amados pastores e cabreiros. Considerando sua
necessidade, tinha dó e pedia a Deus que suscitasse entre os filhos de Abraão
quem cuidasse daqueles infelizes” (A. Tannoia).
Para
que visse ainda mais claro o futuro, Deus colocou-lhe no caminho outras
pessoas, principalmente a Irmã Maria Celeste Crostarosa e o Bispo D. Tomás
Falcoia.
Missionários
de um jeito novo
Em
Scala, no dia 9 de novembro de 1732, com cinco companheiros, Afonso de Ligório
dá início a uma congregação de missionários. Inicialmente se chamava
Congregação do Santíssimo Salvador, nome depois mudado para Congregação do
Santíssimo Redentor.
Dezessete
anos depois, pedindo ao papa a aprovação dessa sua congregação, Afonso escreveu
que desde 1732 ele estava reunido com alguns padres “para atender aos pobres
camponeses espiritualmente mais abandonados, com missões, instruções e outros
exercícios”. E continuava: “É frequente esses camponeses não terem quem lhes
administre os santos sacramentos e lhes anuncie a palavra de Deus... porque são
poucos os sacerdotes que de modo especial se dedicam a eles”. E apontava o
motivo desse abandono: “É que são muitos os gastos necessários para isso e são
grandes os incômodos da tarefa”.
Afonso
insistia ainda em dizer ao papa que seus missionários viviam em comunidades no
meio do povo que evangelizavam. Assim que os pobres camponeses podiam vir
facilmente a essas comunidades para continuar encontrando a palavra de Deus e
os sacramentos.
Mas
os missionários de Afonso não apenas moravam perto dos camponeses. O mais
importante é que viviam perto do povo simples, sem se dar ares de gente
importante e instruída. Anunciavam a palavra de Deus com palavras simples, num
estilo direto e vivo, rezavam e cantavam coisas que o povo podia viver.
E
foi assim que no Reino de tantos padres sobrando e de tantos apóstolos
faltando, os missionários de Afonso, padres e leigos, trouxeram uma novidade. E
de todos os lados chegavam, cada dia mais, os chamados de gente que não tinha
quem lhes partisse o pão da palavra.
Partindo
para o vasto mundo
Primeiro
foram as comunidades no Reino de Nápoles; depois, a partir de 1755 surgiram as
primeiras fundações no território dos Estados Papais. Em 1784, em Roma, dois
estrangeiros entraram para a Congregação: Clemente Hofbauer e Tadeu Hübl.
Logo
no ano seguinte, já ordenados sacerdotes, ambos partem como missionários
redentoristas para onde ainda não havia ido nenhum dos missionários de Afonso.
Ele ficou sabendo e sonhou, ou Deus permitiu-lhe ver, como seus filhos iam
espalhar-se pelo mundo.
Atualmente
há mais de 6 mil redentoristas no mundo. São 2.480 na Europa; 1.490 na América
Latina; 1.133 na América do Norte; 826 na Ásia e Austrália; 157 na África
(dados de junho de 1990).
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