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terça-feira, 31 de julho de 2012

Missionários Redentoristas


A Proposta de Santo Afonso
Nápoles, Padres demais e Apóstolos de menos

Lá por 1700 e pouco, a diocese de Nápoles, no sul da Itália, tinha uns 500 mil habitantes, 39 paróquias na sede e 41 na zona rural. Na sede havia 104 conventos, com 4.500 religiosos, padres e irmãos. As igrejas eram 504, com uns 1.500 padres seculares ligados à arquidiocese, enquanto havia ainda mais uns 3.000 sem ocupação pastoral definida. Em todo o Reino de Nápoles, para uma população de 4 milhões, havia 56 mil padres, 31 mil religiosos, 23 mil freiras.

Havia duas ou até três cidades de Nápoles. Uma era a dos importantes e dos ricos, vivendo de rendas, do comércio ou ocupando altos cargos no Reino e na Igreja. Era a Nápoles dos andares superiores, das carruagens, dos salões e dos minuetos. Outra era a cidade dos andares térreos e dos porões, a Nápoles dos empregados domésticos, dos prestadores de serviço, dos que viviam de espertezas. Fora do centro de ruas apinhadas, estava a cidade da periferia, da beirada do porto, dos quarteirões olhados com suspeita, dos marinheiros e dos desempregados.

Além do Reino da capital, havia o reino dos fundões perdidos, dos povoados escondidos, das pequenas cidades, dos pobres e dos esquecidos. Também no interior sobravam os padres, mas poucos eram os que realmente se dedicavam à evangelização. Era quase dominante uma religiosidade sincretista e mágica, alimentada pelo medo, pela ignorância e por interesses.

Foi na capital desse reino que, em 1696, nasceu Afonso de Ligório, de família rica, importante e cristã. Recebeu a melhor instrução possível naquele tempo, foi advogado de fama, deixou tudo para ser padre em 1726, para ser apóstolo de fato para os que precisavam.


Afonso, Apóstolo das periferias

Logo depois de ordenado padre, Afonso era muito procurado para pregações nas igrejas e nos conventos. Não se deixa, porém, prender pelos que já têm assistência religiosa garantida. Já antes de ser padre, une-se a um grupo de sacerdotes que se dedicam a pregar missões. Começa assim a conhecer todo um mundo muito diferente do mundo dos importantes ao qual pertencia. Não se contenta com as missões. Cria uma novidade pastoral. Vai para os arredores do mercado e do porto. Daí a pouco, ajudado por amigos, está reunindo seus ouvintes à noitinha, depois do horário de trabalho, numa praça qualquer. Fala-lhes e os ouve falar sobre sua vida e suas lutas. Meditam junto, rezam, cantam. Nascem fervorosas comunidades cristãs. Gente simples e rude, que estava apenas à espera de quem lançasse a semente.

Afonso, para as Roças do Reino

Com os padres seculares de Nápoles que formavam a congregação das “Missões Apostólicas”, Afonso vai pregar no interior do reino. Mais uma vez descobre um mundo novo, cheio de pobreza, de ignorância e de... boa vontade. Clero e povo não eram muito diferentes entre si. Precisavam igualmente de quem lhes levasse o Evangelho, mas o Evangelho da esperança. Não precisavam de novos fardos nem de mais tristezas.

Viagens difíceis, longas horas de confessionário, pregações, vigílias. Em menos de três anos a saúde do missionário Afonso de Ligório está comprometida. Durante um mês esteve perto da morte. Deus não queria levá-lo. Queria apenas que parasse um pouco para tomar novo rumo, para mais longe.

A descoberta do que já sabia

Em 1730, com alguns padres companheiros de apostolado, Afonso vai para os altos da montanha acima de Amalfi, acima de Scala. Alojam-se ao lado da capela de Nossa Senhora dos Montes. De perto e de longe acorrem pastores de cabras e camponeses da serra, procurando sedentos e famintos o Evangelho.

“Foi essa a ocasião de que Deus se serviu para fazer com que Afonso descobrisse a grande miséria espiritual de que sofriam tantas almas privadas dos sacramentos e da palavra de Deus que apodreciam abandonadas nos campos e nos casebres” (A. Tannoia). Afonso já vira antes muita gente abandonada, sem o anúncio da salvação. Mas não é sempre no primeiro encontro que se vê a realidade. É preciso olhar na hora certa. E no caso a hora certa era a de Deus.

Era chegada a hora de Afonso: “Seu coração tinha ficado em Santa Maria dos Montes. Não deixou para trás seus amados pastores e cabreiros. Considerando sua necessidade, tinha dó e pedia a Deus que suscitasse entre os filhos de Abraão quem cuidasse daqueles infelizes” (A. Tannoia).

Para que visse ainda mais claro o futuro, Deus colocou-lhe no caminho outras pessoas, principalmente a Irmã Maria Celeste Crostarosa e o Bispo D. Tomás Falcoia.

Missionários de um jeito novo

Em Scala, no dia 9 de novembro de 1732, com cinco companheiros, Afonso de Ligório dá início a uma congregação de missionários. Inicialmente se chamava Congregação do Santíssimo Salvador, nome depois mudado para Congregação do Santíssimo Redentor.

Dezessete anos depois, pedindo ao papa a aprovação dessa sua congregação, Afonso escreveu que desde 1732 ele estava reunido com alguns padres “para atender aos pobres camponeses espiritualmente mais abandonados, com missões, instruções e outros exercícios”. E continuava: “É frequente esses camponeses não terem quem lhes administre os santos sacramentos e lhes anuncie a palavra de Deus... porque são poucos os sacerdotes que de modo especial se dedicam a eles”. E apontava o motivo desse abandono: “É que são muitos os gastos necessários para isso e são grandes os incômodos da tarefa”.


Afonso insistia ainda em dizer ao papa que seus missionários viviam em comunidades no meio do povo que evangelizavam. Assim que os pobres camponeses podiam vir facilmente a essas comunidades para continuar encontrando a palavra de Deus e os sacramentos.

Mas os missionários de Afonso não apenas moravam perto dos camponeses. O mais importante é que viviam perto do povo simples, sem se dar ares de gente importante e instruída. Anunciavam a palavra de Deus com palavras simples, num estilo direto e vivo, rezavam e cantavam coisas que o povo podia viver.

E foi assim que no Reino de tantos padres sobrando e de tantos apóstolos faltando, os missionários de Afonso, padres e leigos, trouxeram uma novidade. E de todos os lados chegavam, cada dia mais, os chamados de gente que não tinha quem lhes partisse o pão da palavra.

Partindo para o vasto mundo

Primeiro foram as comunidades no Reino de Nápoles; depois, a partir de 1755 surgiram as primeiras fundações no território dos Estados Papais. Em 1784, em Roma, dois estrangeiros entraram para a Congregação: Clemente Hofbauer e Tadeu Hübl.

Logo no ano seguinte, já ordenados sacerdotes, ambos partem como missionários redentoristas para onde ainda não havia ido nenhum dos missionários de Afonso. Ele ficou sabendo e sonhou, ou Deus permitiu-lhe ver, como seus filhos iam espalhar-se pelo mundo.

Atualmente há mais de 6 mil redentoristas no mundo. São 2.480 na Europa; 1.490 na América Latina; 1.133 na América do Norte; 826 na Ásia e Austrália; 157 na África (dados de junho de 1990).

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